JÓIAS PRECIOSAS
Fato real contado pelo farmacêutico Paulo Ferreira
Há muitos anos atrás fiquei observando pessoas que dormiam embaixo da laje da minha farmácia onde eu era também farmacêutico. Um era o Ceará, outro o Poeta, e um outro que mais me chamava à atenção, era o Marinheiro. Ele corria atrás das crianças para brincar e elas se divertiam.
Eu ficava intrigado, pois ele falava inglês e algumas coisas eu entendia. Ele era uma mistura de meus sobrinhos, meus irmãos. Quem seria ele? Feição bonita, olhos azuis, cabelos cacheados, assim era o marinheiro.
Um dia, várias pessoas trouxeram o marinheiro na minha farmácia, todo ensangüentado, pois tinha sofrido uma agressão. Tratei dele vários dias e alguns lhe traziam comida, mas a anorexia nervosa causada pelo álcool não deixava lhe parar nada no estômago. A pergunta continuava, quem seria ele?
Ele sempre dizia que não tinha família, mas quando eu estava fazendo o último curativo, notei que ao mexer nos bolsos, havia caído um cartão entre outras coisas, onde estava escrito um nome feminino e um endereço do Rio Grande do Norte.
No outro dia, quando o encontrei, perguntei:
- Marinheiro! Quem é Maria Alves Ferreira?
Ele ficou vermelho, e, assustado disse:
- É minha mãezinha!
Depois de muita dificuldade, pois naquele tempo a comunicação era difícil, consegui falar com um colega que morava no Rio Grande do Sul e conhecia a rua que ela morava. Muito gentil, prometeu me dar o retorno com urgência. Depois de algumas horas, eu estava conversando com aquela mulher. Na conversa, perguntei se ela tinha um filho e, descrevi as características. Ela me informou que ele morrera há mais de cinco anos no mar.
Não existem páginas para eu relatar o que aconteceu depois. Foram lágrimas e mais lágrimas. Marinheiro, primeiro piloto da Marinha Mercante, foi encontrado!
Em um dia lindo, com a participação de muita gente, a mãe o recebeu no aeroporto do Rio Grande do Norte o filho que voltava.
Jóias preciosas estão jogadas nas sarjetas!
Passados vários anos, parou, em frente à farmácia um carro da marinha mercante, e eis que desce dele aquela pessoa bonita, de olhos azuis, todo trajado de branco.Era o Marinheiro.
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