A ETERNA CRISE BRASILEIRA
Por Marta Silvares
Outro dia eu estava sentada em frente à tv, com o controle remoto nas mãos, pulando de canal em canal. Eu buscava os noticiários que só falavam de um assunto: crise. Essa que começou nos Estados Unidos, atingiu a Europa e ameaça respingar em países como o nosso, pobres ou emergentes.
Lembrei de uma conversa que tive com uma amiga, que emigrou há 13 anos para a terra do Tio Sam, levando debaixo do braço o filho de 10. Ela não foi embora do Brasil tentando fugir de uma crise. Queria uma chance de proporcionar uma vida melhor para os dois.
Chegando lá, fez tudo que um brasileiro clandestino pode fazer, faxina, tomar conta de crianças, mandar mercadorias para o Brasil por debaixo do pano e, claro, fugir dos agentes de imigração. Enfim, fez coisas que normalmente não faria por aqui.
Até que um dia começou a fornecer comida congelada para os brasileiros da Fórmula Indy. Deu certo. Desde então, ela montou um buffet que atende até grandes empresas. Aprendeu muito sobre o modo de vida dos americanos.
Passados sete anos, conquistaram o green card e há poucos meses, ela e o filho juraram fidelidade à bandeira americana. Ambos votaram no Obama para presidente.
Ela acha graça quando fala da crise norte-americana. “Crise para eles é não pegar dinheiro no banco e não poder ir às compras com compulsão, como estão acostumados”.
Crise no Brasil é uma palavra banalizada. Aqui a maior parte da população vive eternamente nela, só que de forma bem diferente. Sem ter o básico, o povo vai dando nó em pingo d’água para sobreviver. Na vida profissional, as pessoas vão do céu ao inferno e vice-versa, numa velocidade fantástica.
O que eles chamam de crise nos Estados Unidos, de forma alguma remete aos constantes sufocos que passam os brasileiros.
No final da conversa, ela me faz uma pergunta bem tupiniquim e que fica no ar.
“Isso é crise para quem, cara pálida”?
“Isso é crise para quem, cara pálida”?
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