quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Lendas Urbanas




APONTAMENTOS DO PROFESSOR ALVARENGA:O PESCADOR MACABRO

Condomínio de luxo no Guarujá é assombrado por fantasmas que lá habitaram. Uma ex-moradora conta que vendeu a casa por medo da aparição freqüente de pessoas que não estão mais neste mundo

Por Gabriella Leutz


Praia de Pernambuco, Guarujá. Conhecido por abrigar um dos condomínios mais luxuosos da cidade, o Jardim Acapulco, onde dezenas de famosos e milionários possuem grandiosas mansões, tais como o jornalista José Luiz Datena e o apresentador Gugu Liberato. O local esconde uma aterrorizante e sombria história. Trata-se da lenda do Pescador Macabro.


Tudo começou no fim do século 19, onde hoje fica o condomínio. Em 1862, o pescador José Antonio Teixeira da Silveira, de 47 anos, morava com a esposa e a filha em um sítio deixado de herança por seu pai. Era uma terra promissora, cercada de muito verde, com uma praia serena e límpida.


A FAMÍLIA

Teixeira era tradicional na região. Sempre no último dia de cada mês realizava uma grande festa para toda a vizinhança. “Era um grande marco essa festa. Os amigos e vizinhos participavam e o pescador adorava esses momentos”, conta Sérgio Guedes Alvarenga, professor de história e pesquisador.

Como o forte de José Teixeira era a pesca, ele saía em busca de peixes toda a semana e ficava mais de 15 dias longe da família. Foi no retorno de uma dessas pescarias que José Teixeira recebeu a terrível notícia do falecimento de sua esposa: “Ele foi informado que a esposa havia falecido havia três dias, vítima de uma parada cardíaca, e que seu corpo fora enterrado ali mesmo, na terra de seu sítio, por desejo de sua filha, a jovem Sofia, de 17 anos”, explica o professor.

Estarrecido com a morte da mulher, o pescador passou a ser uma pessoa agressiva, irreconhecível. Teixeira começara então a culpar a filha e os vizinhos pela morte de sua amada, criando um clima de tensão e inimizade. “Dois meses depois Teixeira mergulhou em um mar de ódio e frieza. Se tornou um assassino. Começou a sofrer danos psicológicos que teriam sido motivados pelas aparições de sua esposa”, conta Alvarenga.

De acordo com o professor a esposa de Teixeira era religiosa. As “aparições” estariam ocorrendo porque o seu corpo não fora enterrado em terra cristã: “Seu espírito não descansaria enquanto seu corpo não fosse enterrado em solo católico e aí estaria a explicação para as aparições fantasmagóricas”. Certa noite o pescador ateou fogo na filha enquanto ela dormia. Depois envenenou o gado e os outros animais do sítio. E desapareceu.

Boatos soam que depois de muitos anos, Teixeira fora visto de madrugada andando pela praia, outros dizem terem visto o pescador saindo com o barco em um dia de frio e chuva, desaparecendo entre as ondas.


MORADORES COMEÇAM A VER FANTASMAS

O condomínio Jardim Acapulco foi lançado em 1982. Mas foi no dia 21 de março de 1993 que o primeiro fato atormentador ocorreu ali. Segundo o professor, Sebastiana do Carmo Silva, hoje 74 anos, era empregada doméstica em uma das luxuosas mansões quando afirma ter visto coisas estranhas naquela noite: “Meus patrões tinham acabado de sair e eu fiquei limpando a casa. Eram quase dez da noite quando ouvi cinco batidas na porta da sala. Andei até a porta e a abri, e foi aí que levei um baita susto”, conta.

Sebastiana diz que ao abrir a imensa porta estilo colonial, um homem todo sujo e com roupas rasgadas lhe fez a seguinte pergunta: “A senhora sabe onde era minha casa? Sei que era por aqui”. Sebastiana disse que sentiu um mal-súbito antes mesmo de o homem terminar a pergunta: “Assim que aquele homem com cheiro de maresia começou a falar, senti que minhas pernas amoleceram e meu coração acelerou. Ele não me olhava nos olhos, apenas para baixo. Um grande frio me gelou a espinha e eu caí”.

“Acordei nos braços do segurança, que me perguntou o que havia acontecido. Eu contei a ele e, pelo rádio, foi acionada toda a ronda do Jardim Acapulco para tentar achar o homem. Mas eu já sabia que não se tratava de um homem de carne e osso”, conta Sebastiana.

12 DE DEZEMBRO DE 1997

Um dos vigias noturnos do Jardim Acapulco, José Aparecido Brandão de Lima, de 58 anos, conta que, em uma de suas rondas, perseguiu uma mulher por mais de 20 minutos entre as ruas e a mata fechada do local: “Ela surgiu na Avenida seis, dentro do condomínio. Usava um vestido longo, branco, estava descalça e de cabelos soltos. Assim que eu a vi, acelerei a moto atrás dela, mas o que me chamava à atenção era a maneira como a mulher desaparecia por entre as ruas e avenidas. Chamei reforço pelo rádio e eram mais de 15 guardas percorrendo toda a extensão particular, sem encontrar nada”, conta Lima, que ainda trabalha no residencial.

O vigia conta que em fevereiro de 1998, a mesma mulher foi vista por ele e por outro amigo, perambulando às três da madrugada, próximo ao parque infantil: “Estávamos de moto, um ao lado do outro, quando meu colega viu a mulher. Assim que olhei, percebi que era a mesma daquele dia. Não pensei duas e fui atrás e percebi que ela sumiu nos fundos do condomínio, onde existe um pequeno rio cercado por mata virgem”.


19 DE JANEIRO DE 2003

O jardineiro Augusto dos Santos Moreira, de 44 anos, trabalhava podando as árvores do Jardim Acapulco. “Eu estava próximo ao rio Acapulquinho, quando ouvi uma mulher chorando. O som vinha do rio. Andei até lá e olhei para baixo. Uma mulher de vestido branco e cabelos compridos, cacheados, estava nadando e chorava muito. Passei um rádio imediatamente para a segurança e comuniquei sobre o ocorrido, sem desgrudar os olhos por um segundo da mulher. Senti que meus joelhos bateram no chão e só fui acordar dentro da sala da administração, com várias pessoas me abanando. Tenho certeza que era um fantasma. Esse condomínio precisa ser exorcizado”.


24 DE JULHO DE 2005 E A CASA VENDIDA

A empresária Marta da Cunha Santana, de 42 anos, chegou a vender sua mansão por um preço bem abaixo do desejado devido à aparições de fantasmas em sua casa. Marta conta: “eu estava sentada na sala quando vi uma pessoa sentada em uma das cadeiras que ficava em volta de minha piscina. Levantei calmamente de meu sofá, liguei para o ramal da segurança e avisei sobre o fato. Cheguei mais próxima à janela de vidro e fiquei olhando a pessoa lá fora. Era um homem todo sujo, de bermuda e camisa. Ele estava ali, parado, olhando para os fundos de minha casa e de costas para mim. Assim que os seguranças chegaram, pularam o muro de minha casa, pelos fundos”.

A empresaria diz que o homem desapareceu em uma espécie de névoa branca: “Nunca que eu ia acreditar em fantasmas. Eu só acreditava naquilo que meus olhos vissem e, a partir desse dia, passei a crer”.

Depois daquele dia, ela passou a ter pesadelos horríveis durante a noite com um casal que lhe pedia a casa de volta: “Não conseguia mais dormir. Todas as noites, em algum momento de meu sono, um casal de época aparecia me dizendo que devolvesse o que um dia foi deles. Fui investigar sobre a história do Jardim Acapulco, procurei por um historiador confiável e acabei descobrindo essa lenda do Pescador Macabro. Podem me chamar de doida, mas vendi minha antiga casa e comprei outra, um pouco menor, em outro condomínio da cidade. Meus pesadelos acabaram e nunca mais vi nada de estranho”.

O professor Alvarenga vem estudando as histórias do Jardim Acapulco desde 1991 e já descobriu fatos que podem explicar as assombrações no condomínio. Uma delas é a de que a mulher do pescador Jose Teixeira foi enterrada onde é hoje o parque infantil e que sua casa ficava onde hoje é a antiga mansão de Marta, a empresária: “Pelos arquivos que tenho de época e o mapa do condomínio, a esposa do pescador Teixeira foi enterrada no parque das crianças. Onde é a antiga mansão de Marta é exatamente onde ficava a casa da família e, seguindo as fotos e localizações, onde é hoje a piscina, era o quarto onde Sofia foi queimada viva pelo pai”.

Em sua opinião, os fantasmas da família Teixeira continuarão a assombrar o local, até que suas missões de paz e descanso eterno sejam cumpridas. E atenta para uma curiosidade: “Eu acredito, sim, nessas histórias e todos os dados e arquivos comprovam a existência da lenda. Mas ela ainda não acabou. O corpo da esposa do pescador jamais foi desenterrado e levado a um cemitério. O espaço onde era o sítio e a casa continua habitado”.

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