quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Profissão . Parte2


O CEMITÉRIO DO PAQUETÁ


Por Elaine Saraiva

O que Martins Fontes, Galeão Carvalhal, Vicente de Carvalho, Roberto Santini, Renata Agondi e Mário Covas têm em comum fora o fato de serem personalidades importantes na história de Santos? Sua atual morada, o Cemitério do Paquetá, o mais antigo de Santos.

Antes de sua construção, concluída em 1854, os enterros que ocorriam na Cidade eram realizados no entorno das igrejas. Mas, com o tempo, esses santuários passaram a sofrer com a falta de espaço para novos sepultamentos, o que trazia a necessidade de se levantar um cemitério. “Outro motivo foi uma proibição do governo, relacionada às questões sanitárias”, explica a historiadora e professora da Universidade Católica de Santos, Wilma Therezinha Fernandes de Andrade. Isso ocorreu porque naquele período a população sofria com uma série de epidemias como a febre amarela, peste bubônica (transmitida pelos ratos), malária, varíola e tuberculose, causadas pela falta de saneamento.

A idéia de um cemitério municipal e civil não agradou a todos. Por exemplo, às irmandades da época, que recebiam pelos enterros realizados nas igrejas. “Essas irmandades acharam ruim a construção, pois a partir daquele momento quem receberia o pagamento seria a administração do cemitério”, explica Wilma, que reitera: “Muito também se deve à maçonaria, conhecida por seu poder, e que pressionou o poder público para a construção do cemitério. A maçonaria, por ser mais racionalista, sempre teve um pé atrás com a Igreja, que prezava a fé cega”.

A aquisição do terreno, onde hoje se encontra o cemitério, foi feita em 1851 pela Câmara Municipal de Santos, com o intuito de que o local ficasse distante dos limites da povoação. No entanto, poucos recursos foram destinados para as construções. Em 1852, quando se encerrou o mandato daquele grupo de vereadores responsáveis pela compra do terreno, apenas alguns muros tinham sido erguidos. A demora na conclusão e a necessidade de sepultamentos imediatos fizeram com que, em 18 de outubro de 1853, após benção solene, os primeiros enterros no Cemitério do Paquetá fossem realizados, antes mesmo da construção estar completa.

Um dos atrativos desse cemitério é justamente a quantidade de jazigos de famílias ricas ou conhecidas na história da Cidade. Wilma Therezinha explica que essa existência é fruto de um período próspero em Santos, ocorrido em razão da expansão da agricultura cafeeira: “Famílias daqui enriqueceram rápido, e, para demonstrar o seu poder, investiam em sepulturas luxuosas, geralmente feitas com mármore de Carrara, e mesmo em mausoléus, que, por si só, demonstram um grande status”.

A beleza de muitos desses túmulos tem uma forte influência italiana. A historiadora conta que a arquitetura daquele país é famosa por trabalhos de escultores em praças e cemitérios, e dá como exemplo o de Gênova, de nome Staglieno. “O local é inclusive um ponto turístico da cidade. Tem como um de seus grandes escultores Lourenço Massa, que foi o responsável pelo desenvolvimento dos monumentos a Braz Cubas e Bartolomeu de Gusmão, em São Paulo”, diz.

A idéia do cemitério ser um ponto turístico é defendida por Wilma Therezinha. Para ela, Santos possui tantos atrativos que acaba deixando de lado alguns lugares importantes como o Paquetá. Um exemplo é o fato de muitas de suas sepulturas terem passado por um processo de tombamento, para que não fossem vendidas. A historiadora lembra que essa discussão é antiga na Cidade.

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