domingo, 23 de novembro de 2008

Era uma vez...


A CONTADORA DE HISTÓRIAS

Pessoas e lugares do cotidiano inspiram livros que povoam o imaginário criativo de crianças e jovens com Literatura Fantástica

Por Douglas Luan


A jornalista e escritora Helena Gomes gosta de se meter em aventuras. No momento lidera a luta da ONG Lobo Alpha. Nunca ouviu falar? Pois acesse o site www.loboalpha.com.br. Logo na página inicial há um aviso: “Há segredos que devem continuar assim. Para o bem de todos. Para a sua própria segurança”. Helena comanda a luta para que a morte do jornalista Roger Alonso não fique impune. Ele foi morto por criaturas.

Ao navegar pelo site reportagens, fotos, notícias, espaço para denúncias e até a oportunidade de fazer parte da luta contra as criaturas assassinas. Mas um link chama a atenção: “A verdade verdadeira”. Ao clicá-lo, a surpresa: é tudo mentira! Um texto explica que o assassinato do jornalista Roger Alonso é mentira de internauta, um fake. Esta é uma das histórias de Helena Gomes que mais fez sucesso, tanto que virou uma saga.

O nome do livro é Lobo Alpha e foi lançado pela escritora em 2006, com ilustrações de Alexandre Barbosa, o Bar. Atualmente, ela projeta a seqüência da saga, que se chamará Código Criatura. O conto mistura vários personagens em uma ficção envolvente. No cenário, lobos, mutantes e os mistérios de um clã secreto. O cenário também é variado: Itália, Rússia, França, Hong Kong e Brasil.

Qual o segredo para o sucesso dessas histórias? Já há algum tempo a linha de ficção de monstros e mutantes chama a atenção. Primeiramente dos jovens. Os livros da Helena Gomes são voltados na maioria para adolescentes a partir dos 12 anos. E também para adultos. Cada vez mais este público se prende — e se rende — à leitura dessas histórias. Quem não lembra do sucesso da novela Mutantes, transmitida pela Rede Record? O folhetim marcou uma inovação na televisão brasileira, trazendo para o horário nobre uma saga em que atores tinham super poderes e se transformavam em animais ou levitavam. O retorno foi tão grande que a emissora continuou a novela, intitulada de Caminhos do Coração. A audiência continua alta.

As criações de Helena Gomes não são só sobre mutantes. Ela aborda também a era medieval. A as batalhas da Idade Média também servem de pano de fundo para a criatividade. A escritora é adepta de uma linha ficcional denominada Literatura Fantástica, que trata de temas de terror, fantasia, ficção científica e elementos mágicos. “Meus personagens não existem no mundo real”, explica. Helena frisa que seus livros têm linguagem e público específico: os jovens. “Gosto de escrever para eles e sei que gostam das histórias de aventura”.

A escritora é santista de nascimento. Formou-se em jornalismo. “Quando adolescente gostava de ler Agatha Christie e de ver as novelas que passavam às 18 horas na Rede Globo, pois eram inspiradas em obras do romantismo e do realismo brasileiro. Também lia literatura portuguesa do mesmo período. Isso me ajudou bastante a pegar gosto pela Literatura Fantástica”, diz.

Este tipo de literatura explodiu no País entre 1997 e 1998, com o lançamento nas livrarias e no cinema da saga do bruxo mais famoso do mundo: Harry Potter, criação da autora J.K.Roling. A escritora gosta de Harry Potter. “Mas também gosto de Dragon Ball Z e Guerra nas Estrelas. Minhas criações são uma mistura deles”. Não existe um motivo especial por ter optado por este tipo literatura: “As histórias sempre existiam na minha cabeça, mas nunca pensei em passar para o papel. Em 2001, resolvi começar a escrever a Saga das Cavernas e mostrei para uma amiga e ela gostou. Até 2003, eu já tinha escrito seis livros. Depois disso, engatei de vez”. Hoje para ela escrever é uma necessidade. “Meus livros são como filhos para mim. Gosto de todos. Não tenho um preferido”.

Os personagens usados nos contos são preparados de maneira especial pela escritora. “Eles sempre são espelhados em pessoas que conheço e em pessoas que vejo na rua, os anônimos, em algo que vi, ouvi e observei”. Ela cita um exemplo: “O livro Nanquim, que lançarei até o fim do ano, traz como personagem principal um cachorro labrador preto, que trabalhava na recuperação de doentes no Hospital Guilherme Álvaro”.

A inspiração da escritora para criar histórias de monstros, magos e da era medieval não vem de filmes ou outros livros. Vem, sim, da vida real, do cotidiano, da observação que adquiriu como jornalista. “Todos os dias reparo nos caminhos que faço. Para ir ao trabalho, para ir à faculdade. Sempre vejo algo diferente, uma árvore, um buraco. E tudo isso se torna matéria-prima para desenvolver meus livros, é um processo natural”. A pesquisa também é fundamental. “Se quero ambientar meu leitor na França, tenho de saber o que tem lá. A mesma coisa se o tema tem relação com a Itália. Não posso falar que o personagem saiu do Coliseu e caiu dentro do Vaticano!”.

E dessas misturas surgiu um de seus contos favoritos, um romance policial juvenil. O nome do livro é Assassinato na Biblioteca. Ele foi lançado em agosto, durante a bienal do livro em São Paulo. “Gostei de escrevê-lo, pois o tema é interessante e intrigante”. Tem como cenário a cidade de Santos. “Acho essa cidade fantástica. Há lugares fantásticos aqui, cenários dinâmicos, perfeitos para desenvolver os melhores contos”.

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