quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Era uma vez...


O COLECIONADOR DE HISTÓRIAS


Ele guarda de tudo. Um pedaço de telha pode ser a peça que faltava para chegar a uma verdade escondida no tempo. Como um Sherlock Holmes dos trópicos, Waldir Rueda desvenda mistérios com o que muitos jogam no lixo

Por Mary Hellen Botelho


Há quatro décadas e dois anos ele conseguiu juntar um acervo histórico e bibliográfico de deixar qualquer pesquisador de boca aberta. Personalidades como Antônio Emmerick, Braz Cubas e Vitálico Leal dividem o espaço de seu escritório. Dono de materiais que contam a história de Santos, ele guarda tudo que possa servir de base para argumentações e exigências feitas perante o Poder Público.

Desde criança coleciona de tudo, sentia pena de jogar as coisas fora. Moedas, postais, fotografias, jornais. Foi este sentimento que o tornou um historiador polêmico, daqueles que compram briga com autoridades em nome do patrimônio histórico. Muito antes de ter formação profissional, Waldir Rueda já era reconhecido na cidade como “um verdadeiro lixeiro”, afirmação que faz em meio a gargalhadas. Nas festas de Iemanjá e de final de ano, Waldir vendia velas usadas e o que arrecadava era usado para pesquisa e os objetos que comprava.

Seu faro é aguçado. Rueda é um verdadeiro caçador de histórias, daqueles que se vê em filme, lendo arquivos empoeirados na tentativa de decifrar o que está escrito.

Graças ao historiador, a sepultura do médico Vitálico Leal é reconhecida como patrimônio histórico devido às suas características arquitetônicas. Foi em uma visita a um antiquário que Waldir viu a foto do médico e a associou ao quadro localizado no terceiro andar da Santa Casa de Misericórdia de Santos.

O responsável pela loja lhe deu duas fotografias e uma placa que indicava a função exercida em um consultório no Centro Histórico: parteiro. Após compreender o papel do médico em Santos, Rueda entrou com pedido de tombamento da sepultura.

Acervo Materiais de construção também fazem parte de sua rotina de pesquisador. Quando há demolições, reformas ou mudanças, lá vai ele em busca de alguma coisa que tenha valor histórico, nem que seja para pegar um tijolo, telhas ou azulejos. É isso mesmo, ele coleciona alguns destes materiais e os exibe com orgulho, mostrando que possui anúncios de alguns fabricantes destas peças em jornais de época.

Certa vez, Waldir adquiriu um tijolo que servia como peso de porta em um estabelecimento comercial. Foi o dia inteiro carregando a “peça” que pesa cerca de um quilo. À noite, apesar das dores na coluna, Waldir chegou em casa orgulhoso por levar consigo mais um “pedaço da história”.

Colecionador fanático de jornais, Rueda não esconde a quantidade de exemplares raros que guarda em sua casa. A primeira edição do extinto Cidade de Santos e exemplares da década de 30 de A Tribuna fascinam qualquer pessoa que visite seu escritório.

Parte de sua biblioteca foi adquirida em antiquários. O restante ganhou de amigos que conhecem esta paixão do professor de história da rede pública santista. Há de tudo um pouco em seus arquivos, como um capacete dos combatentes de 32, uma lata de café confeccionada em Santos e um exemplar original do livro de poesias de Joaquim Xavier da Silveira, publicado há 100 anos.

BRAZ CUBAS

“É com Z mesmo e sem acento, olha aqui o documento ditado pelo seu filho, Pedro Cubas, antes de morrer”. A crítica serve como um “puxão de orelhas” bem-humorado a quem usa a grafia Brás. O fundador de Santos foi o alvo principal de sua curiosidade desde o período em que cursava História na Universidade Católica de Santos, em 2003.

Foi um desafio lançado por sua ex-professora, Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, que o fez desenterrar a verdadeira história do ilustre personagem. Obstinado, provou que todas as teses levantadas a respeito de seus restos mortais estão equivocadas.

Seis anos de pesquisas lhe renderam o livro Braz Cubas: Homenagem a uma vida. Com todos os argumentos fundamentados em provas oficiais, a obra concretizou a credibilidade do historiador e lhe rendeu, no início deste ano, o Diploma de Gratidão concedido pela Câmara de Santos durante a comemoração do aniversário da cidade. Atualmente, ele se dedica a seu segundo livro: histórias sobre os bondes santistas.

Tocar violino é outra grande paixão na vida de Waldir. Ele ainda dedica parte de seu tempo para o estudo da música e embala a vida com a canção Fascinação.

Nenhum comentário: